Olá eu sou o André e estou escrevendo esse artigo como forma de orientar outros narradores que podem ter passado (ou estão passando) pelo que eu já passei! Mas antes de falar sobre o tema desse artigo, gostaria de me apresentar: eu me chamo André Fernandes e sou narrador de RPG desde 2007 (o tempo voa), e ao contrário do que você deve estar pensando agora caro amigo leitor, eu não aproveitei todo esse tempo jogando RPG!
Na verdade, metade desse tempo envolvido no mundo dos jogos de interpretação, eu passei sentindo medo; mas por quê? Você se pergunta, e bem, vou tentar explicar como o medo me fez perder experiências dentro do RPG e o mais importante, me fez perder tempo.
Comecei jogando RPG quando ainda era criança, na escola em que eu estudava e a primeira história que joguei foi Dragon Ball Z, um amigo improvisou numa folha de caderno as estatísticas e para decidir o resultado das nossas ações, tirávamos par ou ímpar. Naquela época eu nem sabia que existiam dados com mais de seis lados e não imaginava que se utilizavam regras mais avançadas do que par ou ímpar para determinar o sucesso das nossas ações em jogo.
Avançamos no tempo alguns anos e depois de ter conhecido o RPG propriamente dito, com manuais de regras, dados exóticos, suplementos, mapas, miniaturas e lançamentos de jogos com propostas variadas, eu me peguei sentindo medo de me aventurar naquelas propostas que tanto nos divertem. Eu sentia medo de falhar! De não conseguir trazer imersão para os jogadores, de não ser capaz de dominar as regras e conseguir arbitrá-las. Isso foi gerando crises de ansiedade e mudanças nos sistemas que eu utilizava e que até certo ponto tinha confiança em usar para narrar.
Eu nunca fui do tipo que gostava de jogos mais pesados e com mais “crunch” de regras, sempre preferi sistemas mais simples e menos engessados, que possibilitassem a construção de histórias divertidas e memoráveis, já que é esse o meu intuito ao preparar uma sessão de RPG. Cheguei a me forçar a gostar de jogos que eu sabia que não iam me agradar, mas que poderiam ter uma maior facilidade de conseguir jogadores interessados em participar da mesa, um grande engano, pois eu não me sentia confortável com os conceitos utilizados naqueles jogos e o ciclo de medo e insegurança se iniciava novamente, e foi então que decidi tirar uma pausa do RPG!
Percebi que precisava descansar a mente e buscar o que me fazia feliz nesse hobby, então decidi passar um ano inteiro longe do mundo do RPG.
Um ano sem ler nada a respeito de RPG, sem blogs, reddit, canais de youtube, servidores no Discord e principalmente sem jogar RPG. Uma verdadeira intervenção mesmo, eu estava com problemas e tentei melhorar e entender as causas dessa ansiedade e medo de fazer algo que eu considero bastante divertido, que é narrar histórias e explorar a criatividade que os jogos de interpretação nos proporcionam. Durante esse tempo afastado, também iniciei acompanhamento com um psicólogo e foi aí que percebi certos traumas e tudo fez sentido! Carregamos uma bagagem em nossas mentes que trazemos da infância, essas questões não resolvidas crescem junto de nós e se refletem naquilo que fazemos; no meu caso eu não achava que o que eu já estava fazendo era bacana, eu achava que tudo tinha que ser perfeito e esse pensamento que me sabotava, estava impregnado em minha mente no momento que eu planejava preparar uma aventura de RPG ou quando me interessava por um jogo novo, a síndrome do impostor que afeta muitas pessoas, impedindo que elas reconheçam o valor de seus esforços e que são capazes de coisas incríveis, ela também me afetava.
Como eu lido com esse medo? Bem não é uma coisa fácil, todos os dias eu estou autorregulando para dar valor a pequenas coisas que faço no dia a dia, esse relato que escrevo agora é uma forma de enfrentar o medo, estou preparando uma aventura para jogar com o pessoal do grupo de jogo que faço parte, e está sendo ótimo poder tirar os projetos da mente e colocar no papel, ver que não é um bicho de sete cabeças; todos nós temos inseguranças e sou sortudo em ter uma companheira que me apoia e me entende quando passo por crises de ansiedade e síndrome do impostor. Se você está passando por algo do tipo, converse com alguém próximo, procure uma terapia, escreva num diário ou bloco de notas; mas faça algo, não se deixe abater por essa voz na sua mente que te diz que você não é capaz e que deveria desistir.
Os jogos de interpretação lidam com a criatividade, e nós acabamos nos abrindo ao contar uma história, pois como narradores, nossa função é trazer diversão para o restante do grupo (que responsabilidade!); mas e quanto a nossa diversão? Estamos satisfeitos fazendo isso? Estamos nos cobrando demais para ter a melhor sessão de RPG de nossas vidas, naquela semana/quinzena? Não se cobrar é difícil, mas é um exercício de força de vontade e descoberta individual, espero que esse meu relato sirva para te mostrar que você pode estar perdendo um tempo precioso, focando suas energias em algo que não te trará benefício nenhum.
Se você leu até aqui, agradeço pela sua companhia e fico feliz de poder ter tido um espaço para falar sobre essa situação que é comum quando lidamos com os espaços mais profundos de nossas mentes criativas, abraços e até a próxima…
Fique alerta e não deixe de checar os nossos outros artigos sobre RPG!
André, parabéns pela ousadia em relatar sua situação. Que bom que encontrou ajuda e um pessoal bacana que além de jogar com você te apoia. Sucesso
Obrigado pela oportunidade de relatar a minha experiência, acredito que o texto pode alcançar muitas pessoas que estão na mesma situação ou aqueles que já superaram o mesmo tipo obstáculo.